comida japonesa é o meu rango preferido e tenho a sorte de morar na cidade que tem a maior colônia nipônica de todo o planeta. claro que, como tudo na vida, é preciso filtrar as oferendas oferecidas pelas encruzilhadas pra curtir a vida adoidado e aprontar mil e uma confusões.
o meu restaurante japonês preferido fica num improvável shopping center onde se aloja há décadas o consulado do japão.
lá é possível comer clássicos, tais como tempurá udon, sukyaki, guiozas, entre outras coisas. o almoço é agitado e as noites mais tranquilas. pode-se inclusive jantar aos domingos, coisa rara na cidade da pizza dominical.
mas a grande estrela da casa tornou-se o omakase. eu mesmo sou freguês do nobu san há uma cara e ele nunca repetiu sequer um menu pra mim em mais de vinte anos de atendimento. e sempre com alto nível de excelência, evidente.
numa tradução aproximada, omakase significa se entregar às mãos do itamae. em outras palavras, é ele quem escolhe o que você vai comer, sem interferências.
então, se você é do tipo que não transa natto ou não sabe bem o que é um shiokará, é natural que mantenha a distância desse tipo de programa, pelo menos num lugar mais clássico.
e não existe problema nenhum nisso.
primeiro porque há uma infinidade de outras coisas pra conhecer. lámens, teishokus, bentôs, izakayas, sushi-yas etc. são paulo tem até deli japonesa finíssima na área há algum tempo. se você não deixar a preguiça te dominar, a cidade pode se apresentar de maneira um tanto generosa.
segundo e muito importante é que se banalizarmos um programa especial corremos o risco de nos tornar idiotas.
como a porta de entrada do comensal médio é o sushi, a curva de alguns ditos omakasês contemporânea gira em torno dele nos dias de hoje.
nesses lugares a reserva costuma se=r feita no mesmo horário para toda a clientela, otimizando assim mais a operação restauradora que o jantar da clientela. zero exclusividade, tratamento igual a todes.
embora o serviço não seja de luxo, o preço pode atingir picos bem altos.
após todas as testemunhas se espremerem em frente ao apertado balcão alguém tempera o arroz na frente da arquibancada, sem deixar o que poderia ser a verdadeira estrela do jantar descansar o tempo necessário para a ação. na real só conheço UM itamae que pensa na sequência dos cursos de peixe, sempre com intervalo de prato antes de mudar o estilo, considerando a continuidade de cocção, tempero e mudança de temperatura do shari. domo arigatou, tadashi san.
mas, voltando pro lado de cá da plateia, como estamos falando de lugares pequenos, torna-se inevitável a interação com pessoas desconhecidas. é como estar numa festa estranha com uma gente que você não beberia uma cerveja.
mas com hora pra acabar. porque tem mais um turno ou é preciso não empatar o fecha.
a contemplação é zero na terra que mira em monty python e acerta na zorra total.
o produto? geralmente ok, mas também pode ser ruim a ponto de ser desrespeitoso com uma cultura milenar onde atalhos não são bem vindos.
os atendentes apresentam peça por peça a cada um dos presentes, o que pode ser bastante constrangedor, já que todos escutam a todos.
e a peça costuma ter muito peixe pra pouco shari, não se pensa em equilíbrio, na maior parte das vezes por falta de expertise mesmo.
eu vejo muito casal batendo ponto nesse tipo de programa. porque as pessoas gostam de pagar de especialista de qualquer coisa pra se mostrar supostamente inteligente pro seu par.
quando quem atende dispõe uma peça de sushi na sua frente apenas falando qual é o peixe em cima do arroz, todos envolvidos na apresentação se validam com o claro propósito de happy end no final.
enquanto uns fingem que cozinham, outros fingem que comem. mas sem perder a pose.
chegamos na era da vampetização do sushi.
é o new money (novo dinheiro, pra ti que não fala inglês0 de uma gente incapaz de contemplar o balcão, por exemplo, do hamatyo,, que gira essa roda da fortuna.
que tenhamos uma semana inspirada.
Vai ter selo omakase raiz JB advisor ?