a fortíssima chuva de ontem acompanhou ventania assustadora. sinto muito pelos desafortunados que sofreram um tanto por isso. eu, ser privilegiado, estava na loja de uma amiga e vi a tempestade passar enquanto árvores caíam diante da minha fuça. testemunhei também parte do telhado zetaflex de um estacionamento ir para os ares, proporcionando prejuízo considerável ao dono. por sorte as telhas não atingiram ninguém no fim da inevitável queda.
depois da tempestade, caminhada com o cachorro até o bonito apartamento onde moramos. durante o trajeto, vejo mais árvores derrubadas. algumas chuvas são mais caóticas que outras.
já dentro do prédio, tenho dificuldade em abrir a porta do apê. demorou uns minutos pra entender que o vento vadio fez com que o enorme espelho da entrada caísse e se esparramasse em mil pedaços bloqueando o caminho.
conversei com o dog, que compreendeu tranquilamente a necessidade de esperar no corredor do quarto andar enquanto arrumava a bagunça, após entrar com certa dificuldade no apê. devo estar com uns 128 quilos agora - na semana passada tirei uns dois quilos de barba, me lembre de falar outra hora sobre isso - e às vezes tenho dificuldade média de locomoção. a forma física um pouco distante da ideal pesa mais na meia idade. inclusive pensei em me oferecer pra ser bartender de campo pra cazé tv, mas não sei se o casimiro ia querer alguém duas vezes mais gordo que ele na beira do gramado. será que cabe nós dois na tela do seu celular?
como todo bom capricorniano tradicional, não sou supersticioso e espero que a quebra do espelho não traga mais sete anos de azar até porque puta que pariu. além do mais, não ver o meu corpo inteiro todo santo dia não é de todo mal.
sabe quem também é capricorniano de meia idade, com diferença de apenas três dias de vida em relação a mim?
ele.
sim, ele.
pois é.
nobu san é chefe de cozinha, comanda um restaurante com mais de três décadas de vida e tem três grandes escolas gastronômicas: começou com o seu pai, trabalhou com ninguém menos que haraguchi san e também cerca de dez anos em bons lugares no japão. se você aprecia boa comida japonesa, tenho certeza que pegou as referências.
se tem pouca intimidade com o assunto, mas possui interesse e mora em são paulo, o pub keito é lugar pra se conhecer. no mesmo prédio onde se localiza o consulado do japão, o restaurante oferece um almoço ótimo e clássicos impecáveis, que vão muito além da também excelente oferta de peixe cru.
ver minha imagem refletida em mil cacos de espelho recolhidos do chão e dispostos sobre a mesa de jantar mexeu comigo, me lembrou como a minha vida não passa de um conjunto de obras mais que inacabadas, mas destroçadas mesmo.
acontece que receita boa pra tristeza não se transformar em depressão é sair em busca de algo que te faça bem.
e a boa mesa é o meu ramo há bastante tempo.
a tradução mais adequada pra omakasê é se entregar ao itamae, aquele que fica atrás do balcão. se tudo estiver em plena sintonia, é como deixar o seu corpo aberto para a sua alma ser alimentada.
e ontem foi uma boa noite pra prestigiar nobu san, que cuida do meu espírito há mais de quinze anos, sem nunca ter repetido um omakasê. não conheço ninguém no brasil que tenha o seu repertório e conforme vamos nos conhecendo as noites com ele melhoram cada vez mais.
e hoje é isso que tenho pra lhe dizer.
obrigado pela leitura e cuide do seu espírito você também.
por tutatis, que o céu não desabe sobre as nossas cabeças de novo.
beijo do gordo.