em são paulo nunca foi tão caro sair pra comer.
palavra de quem sai pra comer com certa frequência. quer saber qual o consumo médio de valor de um restaurante? mais ou menos 1/3 do que eu consumo.
aprecio a operação clássica de um restaurante de estilo ocidental. chego cedo e peço couvert, entrada, principal e sobremesa. pra beber, pelo menos uma garrafa de vinho. se tiver também um bom drink pra antes e café razoável pra depois, melhor. e água a rodo, claro. quando tudo dá certo é bom demais.
mas quando dá ruim irrita um bocado. a primeira coisa que me vem à cabeça é que com menos que o saco de dinheiro gasto poderia ir num dos japoneses preferidos.
natural que minha régua seja alta para uns e baixa para outros. por mais que se estude, gosto sempre será subjetivo e por outras tantas vezes afetivo.
porque se existe uma coisa bonita de se ver é famílias felizes se divertindo há gerações naquelas cantinas cuja qualidade da comida servida não comentarei nesse parágrafo para o devido fim de não estragar o rolê.
também não contrario o exército de jovens estúpidos que lotam casual dinners plastificados, rodízios e churrascarias.
olha, na verdade até agradeço, questão de sustentabilidade. sinto muito, mas é fato que não há bom rango pra todo mundo.
além do que o planeta seria bem chato se todos fôssemos elegantes à mesa.
e não há estética que resista à euforia.
não se trata de complexo de vira-lata. tanto que a rede de restauração com mais regularidade da história do planeta é o mc donald's. em suas inúmeras lojas espalhadas por todos os cantos da terra encontra-se executivos que poderiam comer em qualquer lugar, mas preferem o porto seguro de um sanduíche bosta na mão.
porque a maior parte das pessoas simplesmente não se importa com rango, creia-me.
mas se você está aqui comigo imagino que pertença ao seleto grupo que se preocupa com suas escolhas de birita e rango.
além de suas próprias relações pessoais - pra mim, o melhor parâmetro - as famigeradas mídias sociais podem te ajudar, apesar do garimpo se tornar mais trabalhoso a cada dia que passa.
com boa parte dos meus 50 anos passados no meio gastrocômico tornei-me um gato escaldado, caio em cada vez menos roubadas.
mas ainda uso as tais mídias como uma espécie de bússola torta. ao pesquisar sobre o estabelecimento, a primeira pergunta que me faço é qual a probabilidade desse negócio me agradar.
porque se, por exemplo, estivermos falando de um restaurante comandado por ex participante de reality show cuja atenção tá mais focada em vídeos constrangedores e comidas engraçadinhas é mais provável que eu me irrite.
isso se eu pagasse pra ver, o que dificilmente ocorre. porém entendo que assim como tem que goste do paris 6, há fãs do mais novo tik toker do pedaço. como eu disse, tem pra todo mundo.
e justamente por isso, por não ser receita de bolo, que você tem que aprender a dar o seu rolê pra não cair em cilada. sempre lembrando que o que é bom para joão nem sempre é bom para pedro.
peguemos o exemplo daquela antiga prostituta, a dalila. santa padroeira dos barbeitos ou má influência para o feminismo contemporâneo? tudo é mera questão perspectiva.
dalila safadinha é que era a mulher de verdade? sei não…
eu adoro foie gras, mas não é qualquer filisteu que chamaria pra dividir comigo a iguaria. portanto, quando saio com alguém, procuro mirar mais no gosto dela que no meu próprio. felizmente os anos de batalhas perdidas me proporcionaram bom repertório. e, se a pessoa for fã do coco bambu e não tiver aberta a respirar novos ares, tudo bem. decerto ela vai ser mais feliz sozinha, o que convenhamos que nem é tão difícil assim.
por fim, um adendo. nem todo mundo que produz conteúdo - odeio esse termo - e vende cursos, viagens etc, tem boa fé. não gosta de mim? há mais gente decente ao redor da mesa, mas se atente a quem te passa ou tenta te vender informação ou qualquer coisa que valha.
porque nunca foi sobre comida, sempre foi sobre gente.
dito isso, bom jantar pra nós todos. a mesa está posta.
Gostei, gostei e gostei. Gosto quando desenha assim. Tô com 50 e opto por cozinhar e beber em casa